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sábado, 23 de outubro de 2010
cronicas tunisianas parte 6
Na Tunísia há garrafas de refrigerante que são enchidas à mão. Como é que eu sei? Sei porque duas garrafas nunca vêm com a mesma quantidade. A piada é sempre a mesma: quando vêm mais vazias, dizemos que o empregado está contente com o patrão; quando vêm mais cheias, dizemos que está zangado. É um bom quebra-gelo, sem dúvida. Imaginem um português e quatro tunisinos – os quatro com quem costumo almoçar – na cantina da fábrica: entramos na fila, recebemos o tabuleiro – são daqueles dotados de cavidades onde é servida a própria comida, fazendo lembrar os empregues nas prisões: uma cavidade para a salada, outra para o menu principal e outra para as entradas – o primeiro entre nós escolhe o lugar que mais lhe agrada, os outros vão atrás, eu sento-me e invariavelmente logo me levanto ao me aperceber que não tenho faca – por defeito não nos são dadas facas; julgam-nas desnecessárias – e depois ficamos todos uns a olhar para os outros sem saber o que dizer; e é então que alguém se lembra de olhar para a sua garrafa de “Boga” [ver imagem] e, consoante o nível do líquido, dizer: “Olhem para esta: parece que o empregado estava contente/zangado com o patrão.” Todos se riem – rimo-nos e depois repetimos a piada, à vez, até dar a volta à mesa. Depois da “piada da Boga” já ninguém se sente constrangido e logo a conversa vai parar ao conflito Israelo-palestiniano ou, pior, ao futebol – nomeadamente agora, a propósito do mundia
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